Pessoas que consomem muito sal podem estar doentes sem saber, mostra pesquisa da UFMG
O uso excessivo de sal de cozinha (NaCl) ativa células inflamatórias no sistema de defesa do intestino e piora quadros de doenças graves. O pior de tudo: sem, necessariamente, apresentar sintomas. A conclusão é de um estudo de doutorado concluído em agosto na Universidade Federal de Minas Gerais.
De acordo com a pesquisa da nutricionista Sarah Leão Fiorini de Aguiar, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), a dieta dos brasileiros é composta por, pelo menos, duas vezes mais sal do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. Dessa forma, os riscos de problemas são grandes.
Dentre eles, estão a doença de Crohn e a colite ulcerativa, males agrupados na categoria de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII). Em ambos os casos, a inflamação pode vir sem sintomas ou surgir repentinamente. Segundo especialistas, a reação é diferente em cada pessoa.
Geralmente, o portador sofre com diarreia, cólica abdominal, febre e, em alguns casos, sangramento retal. Em quadros mais graves, pode ocorrer perda de apetite e de peso.
A pesquisa
De acordo com a orientadora do trabalho, professora Ana Maria Caetano de Faria, camundongos submetidos por três semanas à dieta rica em sal apresentaram inflamação no cólon do intestino. O teor testado foi semelhante ao padrão de consumo da população brasileira.
“Os resultados obtidos em nosso estudo representam um alerta para os efeitos inflamatórios na mucosa intestinal provenientes do consumo em excesso desse componente dietético essencial”, explicou Sarah Aguiar. A doutora também lembrou que, em pessoas com predisposição genética, esse pode ser um gatilho para o início ou o agravamento de doenças inflamatórias intestinais.
(Fonte: Hoje em Dia)
O que estará no prato do brasileiro em 2020?
Cientistas premiados apostam em tendências relacionadas a uma alimentação mais saudável, personalizada e sem desperdício
Todos os anos, a Fundação Péter Murányi premia iniciativas que visam melhorar algum aspecto da sociedade brasileira em certas áreas do conhecimento. O tema da próxima edição é a alimentação. Enquanto o projeto ganhador não sai, vencedores e finalistas de anos anteriores se reuniram para comentar aquilo que acreditam que será tendência na nutrição no Brasil em 2020.
Todos os palpites estão relacionados à busca por uma dieta mais saudável.
Confira as apostas:
Menos carne na mesa
Para o bioquímico José Marcos Gontijo, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que levou o Prêmio Péter Murányi de 2008, o vegetarianismo e o veganismo vão bombar no nosso país. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) dão um sinal disso.
De acordo com estudo realizado em abril de 2018, 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos atualmente — são aproximadamente 29,2 milhões de pessoas. Em 2011, quando o Ibope conduziu o primeiro levantamento do tipo, o número não passava de 9%.
Para Gontijo, a população tende a reduzir o consumo de proteína animal em geral, mesmo que não seja uma exclusão total. E há pesquisas indicando que essa atitude faria bem para a saúde.
“Há várias opções excelentes para veganos e vegetarianos, como as leguminosas de modo geral e os cereais”, afirma o bioquímico, em comunicado à imprensa. Ele cita, por exemplo, a quinua, o centeio, a aveia e o trigo sarraceno.
Mandioca como opção para dietas sem glúten
Os relatos de indivíduos diagnosticados com alguma alergia alimentar são cada vez mais comuns. Estima-se que ela afete cerca de 5% das crianças e 2% dos adultos em todo o mundo. E o glúten do trigo pode disparar essa reação em certos indivíduos.
Como substituir esse alimento? A engenheira agrônoma do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) Teresa Vale Losada, que venceu o prêmio em 2012, aposta em um tesouro brasileiro: a mandioca.
“É uma excelente fonte de energia para substituir cereais, como arroz, milho e trigo. A raiz e a farinha são ricas em fibras, alguns sais minerais e vitaminas”, afirma Teresa.
A especialista acredita que ainda há muito espaço a ser ocupado pela mandioca. O incentivo ao consumo nas escolas e instituições públicas e a criação de políticas que recuperem os hábitos tradicionais e saudáveis do Brasil seriam um bom começo para que o tubérculo chegue a mais mesas.
A onda dos orgânicos
O processo de cultivo e produção de um alimento está despertando mais atenção por aqui. É o que pensa o engenheiro agrônomo da Embrapa e finalista da edição de 2016, Marcos David Ferreira.
“A preocupação com a qualidade dos mantimentos estará em primeiro lugar. As pessoas estão mais interessadas em saber de onde as frutas e verduras vêm. Querem saber onde foram produzidos e se possuem resíduos de agrotóxicos”, exemplifica Ferreira.
Ele acha que esse cuidado impulsionará o mercado de orgânicos. Entretanto, o preço salgado desses alimentos dificulta sua popularização.
“A situação econômica vai influenciar o que as pessoas conseguem consumir. Mas a tendência é de que se busque cada vez mais esse tipo de produto”, conclui o pesquisador.
Para o futuro mais distante
Embora a tendência apontada pelo farmacêutico Franco Maria Lajolo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ganhador do prêmio em 2016, não chegue em 2020, vale ficar de olho nela. “Um caminho que vem se desenhando é a nutrição personalizada”, afirma.
Esse conceito se baseia em ajustar o cardápio de acordo com particularidades do organismo de cada um, considerando inclusive o DNA. O método ainda está longe da prática clínica — desconfie de quem oferece testes genéticos para adequar a dieta ou a atividade física —, porém Lajolo aposta que isso pode mudar em cinco ou dez anos.
(Fonte: Saúde)
Dieta rica em fibras pode prevenir e amenizar infecções respiratórias em crianças
Dados de um estudo apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e publicado na revista Nature Communications sugerem que uma dieta rica em fibras solúveis pode proteger crianças contra os efeitos do vírus sincicial respiratório (RSV) – causador da bronquiolite –, reduzindo significativamente a perda de peso, a carga viral e o infiltrado de células de defesa nos pulmões durante a infecção.
Por meio de experimentos com camundongos, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) mostraram que, no intestino, as fibras são transformadas pela microbiota em ácidos graxos de cadeia curta, que atuam no pulmão ativando os receptores celulares do tipo GPR43, responsáveis pelo efeito protetor.
A pesquisa começou em 2013, por meio da colaboração do grupo coordenado pelo professor Marco Aurélio Ramirez Vinolo, do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (IB-Unicamp), – com o grupo da PUC-RS liderado pela professora Ana Paula Duarte de Souza, especializado em vírus. Integram a equipe Maria Teresa Pedrosa Silva Clerici, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA-Unicamp); José Luiz Proença Módena, do IBUnicamp; e Hosana Gomes Rodrigues, da Faculdade de Ciências Aplicadas, sediada em Limeira (FCA-Unicamp).
Como explicou Vinolo, o trabalho foi proposto porque à época existiam dados epidemiológicos sugerindo que alimentos com alto conteúdo de fibras poderiam proteger crianças de infecções respiratórias. Além disso, estudos feitos em modelos animais mostraram que o consumo de fibras tinha efeito protetor em relação à asma.
“Chegamos à conclusão que valeria a pena verificar se a infecção pelo RSV poderia de alguma forma ser prevenida ou atenuada. É um problema muito comum em crianças recém-nascidas e até os três anos de idade. Parte dos pacientes evoluei para um quadro grave de inflamação respiratória, chamada de bronquiolite, que pode causar a morte”, disse Vinolo ao Jornal da Unicamp.
A bronquiolite é caracterizada por inflamação e edema das vias aéreas, aumento na produção de muco e necrose das células epiteliais dos brônquios. Em 2017, registrou-se em São Paulo um aumento nos casos graves de crianças infectadas pelo RSV, o que despertou a atenção da comunidade médica e científica para a necessidade do desenvolvimento de terapias. Até o momento, existem apenas tratamentos paliativos, para alívio de sintomas como febre, dor no corpo e dificuldades respiratórias.
O estudo
Nos experimentos feitos em camundongos, metade dos animais recebeu uma dieta com alto teor de fibras e os demais (grupo controle) consumiram alimentos pobres em fibras. Após três semanas, todos foram infectados pelo RSV.
Análises feitas depois de cinco dias mostraram que os roedores do primeiro grupo tinham menos vírus no pulmão e não desenvolveram inflamação pulmonar. Já os do grupo controle manifestaram uma grande inflamação nos pulmões.
Confirmada a hipótese inicial, os pesquisadores decidiram investigar o mecanismo pelo qual as fibras protegem o sistema respiratório. Já se sabia que elas induzem a formação, pela microbiota intestinal, de ácidos graxos de cadeia curta. Mas as concentrações desses compostos podem variar e dependem de vários fatores, como tipo de alimentação e condições metabólicas dos diferentes organismos. Essa variação de concentração pode tornar o indivíduo mais ou menos suscetível a vários tipos de doenças, embora não se soubesse ainda como se dava a ação sobre a infecção provocada pelo RSV.
Foram então realizados experimentos para comprovar que a proteção decorria da ação dos ácidos graxos de cadeia curta. Para tanto, eliminou-se a microbiota dos animais com antibióticos – o que fez cessar o efeito protetor. A proteção, no entanto, foi observada novamente quando esses animaistratados com antibiótico receberam por via oral os ácidos graxos de cadeia curta. Comprovava-se, assim, a hipótese de que os ácidos graxos produzidos pela microbiota do intestino são absorvidos pelo órgão e agem nas células pulmonares, reduzindo a quantidade de vírus.
O efeito protetor foi observado quando os ácidos graxos foram administrados aos roedores por meio da água de beber contendo acetato de sódio e também pela inalação dessa mesma solução. Segundon Vinolo, tratamento semelhante poderia funcionar para humanos.
Em um estudo em andamento, o grupo avalia se há correlação entre as quantidades produzidas de ácidos graxos de cadeia curta no organismo e a intensidade da infecção por RSV. Essa pesquisa está sendo realizada com crianças afetadas pela infecção e atendidas em hospital de Porto Alegre. Nelas são medidas as concentrações de ácidos graxos endógenos. Resultados ainda preliminares indicam que, quanto maior a quantidade desses compostos nas fezes, menor a chance de as crianças desenvolverem infecção grave e menor é o tempo de internação.
No trabalho com animais, verificou-se efeito benéfico da administração de ácidos graxos de cadeia curta antes da infecção (estratégia de prevenção) e também em animais recém-infectados, com redução de vírus no pulmão e diminuição do grau de inflamação no órgão. Esses achados indicam que a abordagempode ser empregada como forma de tratamento.
Patente
Segundo Vinolo, os resultados levaram o grupo a requerer patente do uso dos ácidos graxos de cadeia curta e de moléculas que atuam pelo mesmo mecanismo de ação no tratamento de doenças virais. A ideia, disse o pesquisador, é conseguir parcerias para realizar os testes em humanos.
“Identificamos uma proteína celular que estabelece a conexão entre os ácidos graxos de cadeia curta e sua ação protetora, o receptor GPR43, presente nas células pulmonares. O que patenteamos foi o uso de ácidos graxos de cadeia curta ou moléculas similares que ativam esse receptor que, por sua vez, age no combate a doenças infecciosas virais”, afirmou.
O trabalho teve a participação do bolsista de doutorado José Luís Fachi, da bolsista de mestrado Laís Passariello Pral, ambos do IB-Unicamp, e da doutoranda Krist Helen Antunes, da PUC-RS.
(Fonte: Estadão)