A ideia de poder compensar a farra de calorias com uma breve mudança na rotina alimentar é o principal atrativo do variado leque de produtos e práticas que prometem limpar o organismo sob o mesmo rótulo: detox. Mas não há comprovação científica da sua eficácia.
A oferta desses itens e tratamentos tem como base duas premissas. A primeira é a de que o corpo sempre acumula substâncias que são ingeridas com os alimentos e que têm o potencial de fazer mal: as toxinas, substâncias de origem biológica sem função no organismo, também chamadas de xenobióticos, e que oferecem riscos à saúde. A segunda é a de que é possível eliminar essas substâncias por meio do consumo, por exemplo, de sucos detoxificantes.
A argumentação até pode fazer sentido para quem busca uma vida mais saudável. Mas, para a ciência, a promessa de detoxificação não passa de um mito. E pior: a desejada dieta equilibrada pode ser perdida quando alguém busca apenas produtos detox para limpar o corpo. Em vez de ajudar, a mudança abrupta nos hábitos alimentares tende a prejudicar o metabolismo.
Naturalmente, intestino, fígado e rins conseguem fazer a seleção do que deve ser aproveitado pelo corpo e do que será jogado fora. O que não serve é eliminado via fezes e urina. É o detox natural. Já os nutrientes, como carboidratos, gorduras e proteínas, são processados, dando origem às substâncias que o corpo usa para se manter em funcionamento. O sistema funciona tanto para quem mantém uma dieta saudável quanto para quem exagera na comida e na bebida. Não importa o quanto você coma, o seu metabolismo vai processar os alimentos, sempre separando o joio do trigo.
Isso não livra quem come ou bebe demais de prejuízos à saúde provocados pelos excessos alimentares. Mas esse malefício não se dá pelo acúmulo de toxinas. Quando alguém ingere muita gordura, por exemplo, o metabolismo trabalha para processar tudo. O resultado: mais gordura no sangue, mais gordura depositada nos vasos sanguíneos e, claro, maior risco de doenças coronarianas.
Também pode haver aumento de peso, com acumulação de gordura na região do abdômen, chamada de obesidade central. Isso pode gerar células inflamatórias capazes de produzir substâncias danosas ao funcionamento do fígado. Nessas situações, o órgão pode passar a produzir mais gordura do que tem capacidade de descartar, acumulando gordura e danificando as próprias células. É o que caracteriza uma doença chamada esteatose hepática, que pode evoluir para hepatite e cirrose. Esse quadro não é exclusividade de quem está acima do peso ou ingere muita comida rica em gordura.
(Fonte: Super Interessante/Adaptado)